Síndrome Pós COVID-19: definições e diretrizes da National Institute for Health and Care Excellence (NICE – United Kingdom)
Em dezembro de 2020, a NICE em parceria com a SIGN - Healthcare improvement Scotland Evidence Based Clinical Guideline e a Royal College of General Practioners (RCGP) publicaram uma diretriz intitulada “Managing the long-term effects of COVID-19”. O documento provê medidas de cuidados às pessoas cujos sintomas surgiram durante ou após infecção por SARS-CoV-2 por mais de 4 semanas e que não são explicados por diagnósticos alternativos. Essa nova condição, que possui diversas definições e descrita em muitos termos, pode gerar efeitos significativos à qualidade de vida do indivíduo. Ela também representa um desafio na tentativa de padronizar práticas clínicas baseadas em evidências atuais e de qualidade. Foram desenvolvidas 3 definições baseadas em relação ao tempo do início dos sintomas: COVID-19 agudo (do surgimento dos sintomas até 4 semanas); COVID sintomático (de 4 a 12 semanas) e Síndrome pós COVID (à partir de 12 semanas).
A maior parte das pessoas fica assintomática em até 12 semanas porém uma parcela menor destas ficam com sintomas além desse período. Os sinais e sintomas podem surgir de forma súbita e devem ser investigados urgentemente. Os sintomas da Síndrome pós-COVID apresentam-se muitas vezes de forma múltipla e sobrepostos, que podem flutuar e mudar ao longo do tempo e podem afetar qualquer parte do corpo. Os profissionais de saúde, hospitais e meios de comunicação devem prover informações acessíveis ao paciente e familiares sobre o que pode ser esperado durante e após a infecção por COVID-19. Visto que alguns pacientes podem apresentar confusão mental e déficit cognitivo, é importante salientar que a informação deve ser passada de forma simples, clara e objetiva, tais como:
- Sinais e sintomas comuns (febre, dor no corpo, dor de garganta, cansaço, falta de ar, tosse,.)
- O que esperar da recuperação (o tempo de recuperação e diferente entre pessoas, porém a maior parte fica bem em até 12 semanas);
- As chances de desenvolver o COVID sintomático (4 a 12 semanas) e a Síndrome pós COVID (a partir de 12 semanas) não está relacionado a severidade dos sintomas;
- Os sintomas novos ou persistentes podem aparecer de forma imprevisível afetando pessoas de formas diferentes e em tempos diferentes;
- Como manejar os sintomas (monitorar oxigenação sangue, temperatura);
- A quem informar o surgimento dos sintomas especialmente se surgirem após 4 semanas desde o início (profissionais de saúde);
Sintomas comuns do COVID sintomático e Síndrome pós COVID:
1) Sintomas neurológicos:
- Déficit cognitivo (perda de memória, confusão mental);
- Dor de cabeça;
- Distúrbios do sono;
- Síndrome neuropática periférica (agulhadas e dormência);
- Tontura;
- Delírio (idosos).
2) Sintomas gastrointestinais:
- dor abdominal;
- náuseas;
- diarréia;
- redução apetite e anorexia (idosos).
3) Sintomas musculoesqueléticos:
- dor articular e muscular;
4) Sintomas Psicológicos:
- depressão
- ansiedade
5) Sintomas ouvido, nariz e garganta: dor de ouvido, tontura, perda paladar e olfato, dor garganta, zumbido no ouvido;
6) Sintomas dermatológicos: rachaduras pele.
A avaliação dos pacientes com sintomas em curso ou novos deve ser focada em verificar sintomas e como eles afetam a qualidade de vida de cada indivíduo. A maioria dos indivíduos não percebe a gravidade dos sintomas e quanto sentem, não relacionam ao COVID. Dessa forma, a avaliação e monitoramento feito pelo profissional de saúde deve ter escuta ativa e empática e coleta da história detalhada, levando em consideração o início e severidade dos sintomas. Também deve ser investigada a história de outras condições e como os sintomas da síndrome afetam nas atividades de vida diária e como o paciente sente-se em relação a isso (preocupações, sofrimentos, isolamento, trabalho, estudos..).
REFERÊNCIAS DE URGÊNCIA PARA PROCURA DE SERVIÇO MÉDICO
- Procurar serviço médico urgente se: hipóxia ou desaturação durante atividade física; sinais de doença pulmonar severa, dor torácica e síndrome inflamatória multisistemica (crianças).
- Procurar serviço psiquiátrico se houver risco de suicídio e auto-mutilação.
O tratamento da Síndrome Pós COVID-19 deve ser focada no auto-manejamento do paciente através do suporte da equipe de saúde e monitoramento dos sinais e sintomas. A reabilitação deve ser multidisciplinar visto que a condição pode afetar diversos sistemas: ela deve ser específica para cada demanda, a tomada de decisão e objetivos específicos devem ser feitas juntamente com o paciente. Os idosos e crianças devem ter suporte adicional e sistêmico da equipe de saúde.
A diretriz ainda fala sobre a importância da informação ser difundida através dos profissionais da saúde básica e secundária, mídias e comunidade.
Texto com tradução livre, redigido por Patrícia Montes, fisioterapeuta e sócia fundadora da Clínica Linear- Saúde e Movimento e diretora técnica da Vertical de Tratamento da Dor.
Fonte: Managing the long-term effects of COVID-19. Edinburgh. SING, 2020.
Comentários